Fourteen*


         Redijo este bilhete com a intenção de que captes o recado, e por isso vou simplificar o vocabulário de tal forma a que, sem dificuldade, o compreendas. Vou iludir e pressionar todas as conjugações verbais para que o que sucedeu entre nós fique lá atrás, no apelidado pretérito perfeito que dados os acontecimentos é mais imperfeito que outrora.
       Relembro, quase que revivendo tudo o que vivi contigo. Lembro-me do primeiro impacto essencialmente de não encarar te nos olhos, o dia do mês e o dia semanal, recordo a cumplicidade e o primeiro toque tal como a primeira frase que te pronunciei e a resposta que emergiu de ti, olhando me nos olhos e interpelando retoricamente se o que eu sentia era ciúmes. Guiaste-me e eu deixei-me levar, o vento controlou-nos, e naquele momento ambos tínhamos certezas do que queríamos.
         Contudo neste preciso momento, preciso que te vás embora – tão apressado quanto decidido. Vai enquanto eu quero que vás, vai enquanto não estou a olhar pois assim não me dói tanto. E se preferires ficar não me dificultes os gestos, se a minha defesa é permanecer calada não me obrigues a protestar; se me ampara ficar a observar-te de longe, não te aproximes por favor.

Eu imploro que me cessem paz, e tranquilidade. Só tu por ti só, já me desorientas e desconcentras o suficiente. E se, dispuserem a envolver-se façam-no no mais aconchegado e oculto local embora não tenha este direito, é o único limite que vos suplico, quanto a tudo o resto não vou tecer comentários. Não me diz respeito, mas magoa-me.  


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